Por vários séculos a dualidade entre uma substância material e outra imaterial foi a visão de mundo predominante no ocidente. O corpo faz parte da matéria. Sua essência é a extensão. Ele pode realizar uma grande variedade de ações por si só, sem a intervenção da alma (mente). A essência da mente é pensar. Ao contrário do corpo, a mente não faz parte do universo estendido. Estudar a alma/mente seria algo impossível, dada sua imaterialidade.
Atualmente essa visão mudou. Podemos agora entender a mente humana como consequência da atividade neural. E podemos falar das bases biológicas da psicoterapia – um fazer que se utiliza essencialmente da fala para mudar a mente das pessoas.
Essa revolução foi possível com o desenvolvimento da ciência, da invenção de sofisticados equipamentos que monitoram o cérebro humano em funcionamento. A ciência nos direciona cada vez mais para um entendimento materialista da mente humana, o que nos possibilita estudá-la através de experimentos controlados e replicáveis.
Enquanto o psicólogo está falando com o cliente, estaria também ele modificando o seu cérebro?
Parece que sim!
Nos últimos anos pesquisas analisaram o funcionamento cerebral em relação à psicoterapia e concluíram que ela exerce efeitos duradouros no cérebro, alcançando resultados semelhantes ao do tratamento farmacológico.
A psicoterapia atuaria modificando o padrão de transmissão sináptica (conexão entre neurônios) do cérebro e, consequentemente, alterando nossa percepção, emoção, pensamentos, crenças, comportamento ou motivação.
O psicólogo colabora na modificação de padrões de comunicação sináptica. Enquanto nosso código genético nos fornece o material para formarmos um mesmo cérebro humano, as experiências ambientais de cada indivíduo – entre elas a psicoterapia – determinarão as diferenças individuais; ou seja, as células ou os padrões de comunicação sináptica de cada indivíduo respondem em função das mais variadas fontes de estimulação e significados com que esse indivíduo se deparou.
Nestes termos, a prática psicológica é também uma prática biológica. Não meramente reduzida a esta, já que a própria natureza multifatorial do fenômeno psicológico impede esse reducionismo, mas relacionada às mudanças neurais como produtos finais do impacto que o meio ambiente e as relações sociais tem sobre a plasticidade sináptica de nossas células nervosas.
Quando o psicólogo está falando com o cliente, ele está de alguma forma alterando o seu cérebro, e com isso alterando suas crenças e comportamentos.
Fonte: LANDEIRA-FERNANDEZ,J. &
CRUZ,A.P.M. Da filosofia à neurobiologia:
o que o psicólogo deve saber sobre os efeitos da psicoterapia no sistema
nervoso. Cadernos de Psicologia, 4:83-89.